terça-feira, 15 de março de 2011

Um baú de traições

Por Aldo Junior


Olavo tinha 21 anos quando viu pela primeira vez
Mariana passar pelos corredores da faculdade. Ele cursava o 6º período de
Administração e ela era caloura de Publicidade. Não se falaram nada, mas foi
amor à pimeira vista. Eles só foram se conhecer de verdade quando os dois se
esbarraram acidentalmente em uma festa da faculdade e Olavo derramou bebida no
vestido de Mariana e se ofereceu para, pelo menos, pagar outra bebida. Ela
respondeu com um sorriso e os dois conversaram longamente sentados no bar da
festa, nem viram a festa terminar. Já era bem tarde e a amiga de Mariana havia
ido para a casa que as duas dividiam na Gávea, foi então que Olavo viu a
oportunidade de ganhar o primeiro beijo dela. Se ofereceu para levá-la em casa
e na porta, ele a segurou firme e delicadamente e lhe deu um beijo apaixonado.
Daquele dia em diante, os dois passaram a namorar.


Três anos depois, Olavo já havia terminado a
faculdade e estava terminando o mestrado e Mariana acabara de terminar a faculdade
e de passar para o mestrado. Olavo estava empregado na empresa que o havia
contratado como estagiário na época de faculdade e ocupava o cargo de chefe de
departamento de contabilidade desta. Mariana e duas amigas de faculdade haviam
se juntado e estavam estruturando uma empresa de propaganda para elas. Foi
quando Olavo viu a oportunidade de pedir sua amada em casamento: a levou a um
restaurante e lhe deu um belo anel com uma pérola; ela aceitou o pedido e os
dois começaram a organizar o casamento.


Alguns anos se passaram e os dois, já casados,
passaram pela primeira crise na relação. Olavo havia sido promovido algumas
vezes e estava com um cargo de gerência, o que lhe ocupava bastante o tempo e
Mariana sentia falta do marido. Muitas vezes, ele precisava jantar com
acionistas da empresa, ou com pessoas para negociar alguns contratos, mas
sempre chegava em casa por volta das 22h. Um belo dia, ele chegou em casa muito
tarde (por volta de 0h), com um belo solitário de brilhante para sua esposa.
Mariana estranhou, mas não disse nada. Passaram-se alguns dias e ele voltou a
chegar muito mais tarde e, dessa vez, Mariana estranhou bastante, já que ele
não havia avisado e dexara o celular desligado desde às 20h. Quando chegou em
casa, Olavo trazia um buquê de rosas e um outro anel, dessa vez uma semi
aliança de esmeraldas e brilhantes. Mariana esperava ansiosamente o marido para
lhe dizer que estava grávida de seu primeiro filho de 7 semanas. No dia
seguinte, Olavo levou Mariana ao restaurante em que ele a pediu em casamento e
esta foi uma noite inesquecível para os dois. Para ela, porque estava
comemorando com o marido que ela tanto amava a chegada do primeiro filho; para
ele porque, na mesa ao lado, estava Felícia, sua amante há três semanas. No dia
seguinte, passada a saia justa de Olavo, ele ligou para Felícia e pediu que ela
nunca mais o procurasse, já que a sua esposa estava grávida de seu primeiro
filho e ele queria manter o casamento e comprou para sua esposa uma pulseira de
diamante, para caso Felícia fizesse algum tipo de escândalo, ele dizer que
Felícia estava com inveja e que ela era apaixonada por ele, mas ele nunca deu
nenhum sinal a ela.


Passaram-se alguns meses, Murilo nasceu (primeiro
filho do casal) e Mariana contratou uma moça muito bonita para lhe ajudar a
cuidar de Murilo, já que ela era mãe pela primeira vez e Fernanda era babá e
enfermeira. Ao ver Fernanda, Olavo se intereçou por ela e logo os dois
começaram a se encontrar escondidos. Quando Murilo fez dois anos, Mariana ouviu
uma conversa pelo telefone entre Olavo e Fernanda e seguiu o marido. Olavo
havia levado Fernanda para um motel “barato” perto do centro da cidade e
passaram boa parte da tarde juntos. Mariana saiu de lá morrendo de raiva, foi
até a primeira joalheria que encontrou e comprou um colar todo de diamentes e
ouro branco no cartão de Olavo. Quando Olavo chegou em casa e viu a esposa
usando o colar, perguntou quem havia dado, era respondeu que ele e ele entendeu
que ela havia descoberto que ele estava tendo um caso com Fernanda. Na manhã
seguinte, Olavo despediu Fernanda e falou à moça que ela tinha muito mais a
perder do que ele em denunciar o caso deles. Fernanda se foi e Mariana
contratou Glória, uma senhora de 55 anos, obesa, para ajudar-lhe a cuidar de
Murilo. Ela cuidou de Murilo até este ir para a faculdade, com 17 anos.


Alguns anos se passaram e Olavo continuou a trair
sua esposa e, para amenizar um pouco a sua culpa, ele sempre comprava joias
caras para ela. Mariana passou a guardar as joias ganhadas em um pequeno baú de
madeira que havia ganhado de sua mãe logo após o casamento deles. O baú
pertencia a um conjunto de decoração e era esculpido à mão.


Nestes anos, várias mulheres passaram na vida de
Olavo: eram secretárias da empresa, agentes de viagem, colegas de trabalho, completas
desconhecidas vistas na rua ou em sinais de trânsito, shoppings, e outros,
algumas atendentes das joalherias. Nenhum caso passava de, no máximo, dois ou
três encontros. Mas, nenhuma mulher provocou tanto Olavo quanto Catarina.
Catarina era gerente de produção na empresa que Olavo trabalhava e sempre foi
aquela mulher misteriosa, corpão, daquelas que todo homem quer ter um dia em
sua cama. Catarina havia acabado de se separar quando conenheu e começou a se
envolver com Olavo e ele acabou se deixando entregar pra essa mistura de tesão
e loucura.


Mariana acabou por se acostumar com a ausência do
marido durante as noites e aproveitava para trabalhar mais em suas propagandas,
já que estas estavam lhe rendendo ótimos lucros e, agora, Mariana estava
sozinha na empresa, as duas sócias casaram-se e engravidaram, preferindo sair
da sociedade. Agora, Mariana podia provar para todos os seus talentos.


Olavo e Catarina se encontravam quase todas as
noites em moteis e, quando a relação passou a se tornar duradoura, Olavo alugou
um flat só para os encontros escusos. Todas as noites que havia encontro, Olavo
levava uma joia à Mariana, no início, Mariana até se importava com isto, mas
logo se acomodou. Ela sabia que o marido mantinha uma relação sólida com ela,
que os dois se gostavam muito e que ele seria completamente justo e
transparente, caso o amor acabasse. Olavo não costumava se encontrar mais que
três vezes com nenhuma mulher, mas com Catarina, ele se envolveu muito. Ele não
era apaixonado pela amante; eles viviam uma relação de vício. Olavo era viciado
na sensação de liberdade que Catarina lhe dava e ela na sensação de segurança
que ele lhe trazia.


Um dia, Catarina foi até a empresa de Mariana para
lhe encomendar uma propaganda para estimular os funcionários, visando o aumento
na produção destes. Catarina não conhecia Mariana e a recíproca era verdadeira.
As duas nem desconfiaram que estavam envolvidas com o mesmo homem: uma
envolvida por um amor no casamento e a outra em uma relação cheia de luxúria e
necessidade do outro. Mariana lhe fez a propaganda e Cataria conseguiu o seu
objetivo. Em casa, Mariana comentou com o marido que conheceu Catarina, uma
gerente de produção da empresa que ele trabalhava e Olavo se sentiu ameaçado,
pensando que Catarina pudesse comentar com Mariana que tinha um amante chamado
Olavo, um homem casado há anos e Mariana descobrisse seu envolvimento.


Mariana nunca mais viu Catarina e esta também fez
questão de não procurar mais a publicitária, já que elas não gostaram uma da
outra e não sabiam muito bem o por quê. Com isso, Olavo ficou mais aliviado e
resolveu terminar sua relação com Catarina, o que seria muito mais fácil para
os dois. A relação dos dois durou quase cinco anos e não deixou nenhuma
cicatriz em nenhum dos dois; nenhum tipo de ameaça de nenhum dos dois lados.
Logo, Catarina conheceu um alemão, casou-se e foi morar na Alemanha com o
marido.


Durante todos esses anos, Olavo continuou a trazer
joias todas as noites que encontrava com suas amantes para Mariana. E Mariana
se encontrava sentada à frente da pentiadeira e, bem à sua frente, o baú cheio
de joias, a prova de anos de traições do seu marido e ela sabia de tudo, sempre
soube, e sempre foi acomodada com isto, afinal de contas, ela sempre soube que
o marido a amava. Olavo nunca pensou em trocar a mulher por outra, nem por um
segundo.


Mariana ficou chateada somente com uma traição.
Olavo, em uma noite, após sair de seu escritório, encontrou com Sabrina, prima
de Mariana, que ela nunca se dera bem na vida. Sabrina, ao se lembrar do
casamento de sua prima com Olavo, arrumou uma maneira de se chocar
acidentalmente com ele e, em um momento de distração de Olavo, o beijou. Como
Olavo não se lembrou de Sabrina, acabou a levando para um quarto de motel
chinfrim. Mariana passou, no momento exato que Olavo entrava no motel
acompanhado de Sabrina, sua prima tanto odiada. Mariana não se conteve, entrou
no motel e fez um escândalo, dizendo a Olavo que ela nunca esperaria uma
atitude assim dele, já que ele sabia que ela odiava Sabrina. Olavo tentou se
defender, dizendo que não tinha se recordado de Sabrina e que, para ele, ela
era apenas “mais uma joia” para o baú, ele nunca mais a procuraria. Mariana
atirou sua aliança em Olavo, deu meia volta e saiu daqele lugar.


Quando Olavo chegou em casa, poucos minutos após
Mariana, ela já estava jogando todas as roupas dele pela janela, aos prantos.
Olavo tentou abraçar a esposa, dizendo que nunca mais a trairia, mas ela,
irredutível, continuou a fazer o que estava fazendo. Duas semanas depois, o
advogado de Mariana procurou Olavo no escritório em que ele trabalhava e lhe
entregou o pedido de separação. Olavo tentou ligar várias vezes para Mariana,
mas ela havia desligado seu celular e pedido para a empregada, Glória, que
dissesse à Olavo que ela havia saído.


Realmente Mariana havia saído, ela foi ao shopping
e foi visivelmente paquerada por um homem. Como Mariana não estava mais casada
com Olavo e ele sempre a traíra, Mariana deixou que ele se aproximasse. Seu
nome era Walter, solteiro convicto, um homem muito bonito e rico. Mariana
deixou que Walter lhe pagasse um drink, dois... Quando Mariana deu por si,
Walter estava em sua casa, e eles estavam prestes a ir para a cama. Neste
momento, Olavo abre a porta do quarto e pega sua esposa somente de lingerie, deitada
na cama que era sua, com um homem desconhecido. Sem pensar em nada, pegou uma
pistola, em sua maleta de trabalho, atirou duas vezes no peito de Mariana,
tiros fatais. Atirou mais duas vezes em Walter, um deles pegou de raspão, mas o
outro lhe atingiu embaixo do rosto, chegando ao cérebro. E apontou a arma à sua
cabeça, fechou os olhos e apertou o gatinho.


Glória, que estava em seu quarto, ouviu o barulho
dos tiros e chamou a polícia. Os investigadores constataram ser um crime
passional, principalmente ao encontrarem na maleta de Olavo os papeis da
separação.


Murilo, sem saber de todo o sofrimento da mãe
durante anos, a acusou de ser a causadora da morte de seu pai. Glória contou
parte da situação dos pais à Murilo, só não sabia que Olavo havia traído Mariana
com a prima que Mariana mais odiava. Murilo repensou a situação e percebeu que
a sua mãe não tinha culpa, o culpado maior era o seu pai.


Ao encontrar o baú em cima da penteadeira da mãe,
mal sabia que ali dentro havia, guardado em joias, mais de três coberturas
duplex na Avenida Atlântica, e nem que estas eram a prova de anos de traição.

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